Lilith Parte 1

A serpente tortuosa, a mulher má, a súcubo, mulher selvagem que não se submete a nenhum homem. Assim é a iconografia de Lilith, uma das figuras mais polarizadoras do mito, cujo abraço sombrio e divino se estende pela mitologia suméria, babilônica, árabe, assíria e hebraica. Lilith é a personificação do pior medo do homem; o poder independente, inatingível e feroz da mulher. Como alguém que pertence a si mesma ela foi personificada como a comedora de crianças, a sedutora, a velha bruxa e a mulher estridente que foge para o deserto para copular com demônios e espalhar terror pelo mundo.

No Zohar, o texto principal da Cabala judaica, diz-se que Lilith nasceu do mal das cascas da lua depois que a luz da lua foi diminuída para que pudesse refletir apenas o sol. Dessa diminuição de luz feminina de fogo, nasceu Lilith. No Talmud, outro antigo texto judaico, diz-se que Lilith é a primeira esposa de Adão, criada antes de Eva. Ela foi criada não da costela de Adão, mas da sujeira e do pó, como ele. Depois que ela se recusou a ser subserviente ao marido, que só permitia sexo se ela estivesse abaixo dele, Lilith percebeu que sempre teria que ser submissa a Adão e em um acesso de pura raiva ela disse o nome secreto de Deus, brotou asas e voou para longe, se exilando no deserto. Diz-se que Lilith escapou para o Mar Vermelho, encontrando prazer no caos, copulando com hordas de demônios e dando à luz milhares e milhares de crianças demoníacas. Tanto Lilith quanto essas crianças eram muito temidas, especialmente Lilith, que diz ter se vingado de Adão fazendo sexo com ele e outros homens adormecidos, causando emissões noturnas e o nascimento de ainda mais crianças demoníacas.

Na Suméria, Lilith está associada à Deusa Pássaro e ao espírito do vento, e ela está associada a Nilil, Senhora do Ar e deusa dos Grãos, que também é neta da Deusa  Inanna. Diz-se que Lilith era uma serva de Inanna, e ela trazia homens da rua para o templo interno da Deusa, onde os rituais cerimoniais de sexo aconteciam. Mais tarde, essa posição intermediária entre o sagrado e o profano faz com que Lilith seja vista como uma encarnação dos males e perigos da sexualidade. Lilith é vista mais tarde como uma Deusa Pássaro, que é linda com pés com garras, vista com leões flanqueando-a e vários conjuntos de chifres. Associada à coruja, Lilith também é uma deusa do grito, que pode ser vista como uma mulher que não tem medo de expressar seus sentimentos.

Vingativa e indomável ela foi uma mulher completa para si mesma e foi reorganizada como tudo o que o homem teme em uma mulher erótica e sensual. Lilith foi banida para as sombras, como a bruxa desviante que só quer fornicar, causar o mal e viver ao lado de demônios. E infelizmente sua história foi submetida ao olhar do patriarcado. Mas mesmo através dessa lente, Lilith ainda é descrita como uma bela mulher adornada em camadas de vermelho; ela tem um glamour sedutor que poderia enlouquecer. Ela está coberta de joias que na verdade são como talismãs que impedem que os outros vejam seu “verdadeiro” Eu.

Quando trabalhamos e abraçamos esse arquétipo da Deusa das Trevas, estamos aceitando todas as partes de nós mesmos que nos dizem para rejeitar. Lilith é a sexualidade indomável e feroz que vive em todos nós. Ela é parte da nossa sombra que está determinada a se vingar, e que quer justiça e vingança. Ela representa a parte polarizadora do feminino que se recusa a se submeter por causa disso.

Símbolos Sagrados e Oferendas

Uma boa maneira de começar a formar um relacionamento com Lilith é dedicar um altar a ela. Diariamente eu recebo essa pergunta no instagram então resolvi dar umas dicas básicas, mas úteis. O altar é um ponto focal mágico de um espaço, onde você pode se voltar para se conectar com Lilith, praticar sua magia, realizar adivinhações e deixar  suas oferendas. Lilith é uma Deusa das Trevas, conectada com as sombras e os párias. Quando damos espaço a ela e ao arquétipo da mulher independente, estamos curando nossas próprias sombras. Estamos dando espaço a todas as nossas dimensões. Seu altar pode conter velas pretas ou vermelhas que você acende todos os dias para se conectar com ela, pode conter um frasco de sangue menstrual, cristais, penas de coruja e/ou pele de cobra. O que significa para você ser desafiador e pertencer a si mesmo? Pense no simbolismo que fala ao seu coração e coloque-o em seu altar, pode ser uma carta ou bilhete, diga com suas próprias palavras.

Ritual é a linguagem da Deusa, e retornar ao seu altar para uma cerimônia simples que você realiza regularmente é uma maneira poderosa de estabelecer uma conexão com o divino. Esteja você se ungindo com óleo, acendendo uma vela ou fazendo uma oração, essa prática de devoção é um passo realmente poderoso para criar um relacionamento com Lilith.

CORRESPONDÊNCIAS

• Elemento:  Seu elemento principal é vento/ar, que corresponde ao elemento espírito. O fogo, é secundário, pois Lilith representa desejo e determinação, mesmo diante da adversidade. Ela também tem uma pontada do elemento terra sendo associado a serpentes e ao submundo.
• Dia da Semana: Segunda e Sexta -feira são os dias que eu costumo reverencia-la
• Horário: antes da meia -noite
• Fase:  Lua Negra e Lua Nova
• Temporada:  Inverno
• Dias Santos:  Ostara, Litha, Mabon e Yule (Lilith governa os dois equinócios e dois solstícios).
• Instruções:  Leste para Ar, Norte para terra e centro para equilíbrio.
• Cores:  As cores primárias são o vermelho e o preto. Secundárias, são o branco (para a morte) e Verde para simbolizar o Éden, e às vezes também o roxo para o mistério.

       Símbolo de Lilith

• Símbolos:  Lua crescente com uma cruz, luas escuras/crescentes, frutas (especialmente maçãs). Corujas, cobras, cabras, árvores e pássaros.
• Ervas e Flores:  Azaléia, Oleandro, Rosa Branca e/ou Vermelha, Artemísia, Beladona, Sândalo e Patchouli e Lírio Vermelho e/ou Preto
• Ferramentas:  Espelho de vidência, caneta bico de pena, cartas do tarot: A Lua, O Diabo e Alta Sacerdotisa.
• Cristais: Pedras vermelhas e alaranjadas da cor do fogo, para ativar o chacra raiz e sacral: cornalina, granada, citrino e jaspe vermelho. E também Obsidiana, Onix, Turmalina Negra e Pedra da lua.
• Nomes: Serpente Tortuosa, Mãe dos Demônios, Súcubos, Rainha de Sabá, Ruína do Mundo, Grande Mãe, Serpente Primordial, Fim de Toda a Carne, Mulher da Prostituição, Demônio da Noite, Strix e Coruja .

Cores: As cores do fogo; Vermelho Escarlate, Vermelho Cereja, Vermelho Sangue, Marrom, Laranja brilhante, Amarelo, Azul Ultravioleta profundo. Preto como o vazio e Cinza profundo.

Aromas: Canela, Verbena, Maçã, e o cheiro do deserto e fogo,

Associações Sagradas: A coruja, a cobra, gatos pretos, aves de rapina, a faca, o anel e a vara (símbolos do poder antigo), a lua escura.

Oferendas: Sangue menstrual, vinho tinto, maças, rosas e o que sua intuição lhe disser.

Mantras:

Eu sou inteira para mim mesma

Eu aceito todas as partes rejeitadas de mim mesma,

Eu abraço minha sombra

Eu abraço meu desvio

Eu abraço minha natureza sombria e erótica,

Eu abraço todo o meu poder,

E só os compartilho com aqueles que considero dignos!

Meditação:

Esta meditação pode ser feita a qualquer momento, embora durante a Lua Negra ou Lua Nova seja especialmente potente. Nesta meditação, você viajará para o deserto para se conectar com Lilith e receber o auxilio dela.

Uma sugestão: Você pode gravar a si mesmo narrando a meditação (fale pausadamente sem pressa) e depois acompanhar ouvindo pelo celular, mas desligue as notificações para que não atrapalhe a meditação.

Encontre um lugar confortável, feche os olhos volte-se para seu interior. Respire fundo e solte a respiração. A cada expiração, comece a sentir qualquer estresse, preocupações ou ansiedades desaparecerem. À medida que você começa a se estabelecer no presente, comece a se visualizar num deserto desolado onde não há nada ao seu redor, exceto uma caverna a sua frente. Você começa a caminhar em direção a ela, percebendo sensações como o sol nas costas e um fogo crescendo mais intensamente em sua barriga à medida que se aproxima cada vez mais. Ao se aproximar da caverna, você percebe um brilho dentro dela. Você tem que se agachar para entrar, mas quando você entra ela se abre para que você possa ficar de pé. Dentro há um caldeirão com fogo, e você instantaneamente sente uma intensa paixão explodindo em você enquanto você olha para a chama alaranjada, azul e violeta. Você sente uma presença perto de você e ao se virar para o lado vê Lilith; ela está envolta em camadas de tecido vermelho e algumas jóias e seu cabelo é comprido e selvagem. Ela olha para você com um brilho nos olhos e você instantaneamente sente um puxão de volta para a chama à sua frente. Lilith começa a contar sua história, o que significa para ela pertencer a si mesma, ser desafiadora e vingativa. Ela compartilha com você como sua chama sagrada permite que ela libere e destrua o que ela não precisa mais e como isso representa sua sexualidade, seu poder e sua força. Ela pede que você se conecte com os aspectos de si mesmo dos quais tem medo; os poderes que você tem ignorado durante tanto tempo. Lilith pede que você pare de pensar pequeno e que não se contente com pouco, e mais, ela pede que você jogue qualquer coisa que você não precise mais no fogo. Sentimentos e coisas que lhe causam mal (sinta -se livre para jogar no caldeirão o que não quer mais). Lilith tira uma de suas jóias e lhe entrega, é um talismã e você o pega em sua mão, observando sua cor, forma, peso e energia. Ela o(a) instrui a infundir dentro do talismã o que você quer deixar ir, pedindo que você segure em sua mão e envie sua intenção. Quando estiver pronto, ela diz para jogar no fogo. Ao fazê-lo, o talismã começa a acender e a chama fica de um azul profundo; você sente uma profunda sensação de liberação como se um peso tivesse sido tirado de seus ombros. A chama continua dançando e se transformando e você ouve um uivo sair de Lilith quando ela começa a se movimentar e dançar. Ela pega suas mãos e você começa a dançar em êxtase ao redor do fogo. Permita-se continuar liberando tudo o que precisa deixar ir, dance com a deusa selvagem e feroz enquanto você se deixa levar cada vez mais por seu próprio poder. Você dança até sentir o ciclo completo, momento em que Lilith tira outro amuleto, desta vez uma linda pedra vermelha em uma corrente de ouro, e a coloca em volta do seu pescoço. Ela sussurra algo em seu ouvido e então desaparece na escuridão da caverna. Neste ponto, o fogo começou a diminuir e você sabe que é sua hora de partir. Você agradece à Deusa e à mulher selvagem em você. Você coloca o colar e sente o peso suave dele em seu pescoço, e sabe que essa é sua conexão com ela, com este lugar e com você mesmo. Enquanto você se agacha sob a entrada da caverna para sair, você agradece a ela pela benção de estar em sua presença e caminha para o deserto. Você continua andando e andando e começa a sentir voltando ao seu corpo. Você está de volta e para que você não se esqueça de sua conexão com ela pronuncie esse encantamento:

Sou filha da Serpente Tortuosa

Uma filha do feminino obscuro, desviante e divina.

Eu me livro daqueles que me impediram de reivindicar minha natureza sexual.

Eu liberto de tudo que me impediu de reivindicar minha plena expressão e poder.

Enquanto esta chama queima o que não me serve mais,

Agora e para sempre me recusarei a me diminuir,

Sou guiada pela Deusa das Trevas,

Minha verdadeira natureza, não importa quão subversiva seja, ela sempre viverá.

Referências:

1. Jewish Encyclopedia Shedim
2. Jewish Encyclopedia Demonology
3.  Kabbala: Lilith, Queen of the Demons
4. The Encyclopedia Ff Jewish Myth, Magic and Mysticism.